22 dezembro, 2006

Como dar más notícias ...

O filho universitário escreve para os seus pais:

Querido Pai e Querida Mãe:
Já faz três meses que estou na Universidade e sei que demorei para escrever-lhes.
Agora já estou melhor. A fractura e o traumatismo craniano que tive ao saltar da janela de meu quarto em chamas ao chegar aqui, estão praticamente curados.
Passei só duas semanas no hospital, a minha visão está quase normal e aquelas terríveis dores de cabeça só voltam uma vez por semana.
Como o incêndio foi causado por um descuido meu, teremos que pagar 50 mil euros para a Universidade pelos danos causados, mas isso não é nada, pois o importante é que estou vivo, não é.
Felizmente a empregada que trabalha na lavandaria em frente viu tudo. Aliás, foi ela quem chamou a ambulância e avisou aos bombeiros. Ela também foi ver-me ao hospital e como eu não tinha para onde ir, já que meu quarto ficou reduzido a cinzas, teve a gentileza de convidar-me a passar um tempo com ela. Na verdade é um quarto que ela aluga mas, tem sido muito agradável.
Ela tem o dobro da minha idade, mãe, e tem me mostrado um outro lado da vida que é fascinante. Jogamos cartas o dia inteiro. Altos truques! Precisa ver.
É..., estamos perdidamente apaixonados e queremos casar.
Apesar de não termos ainda fixado a data, espero que seja antes que a gravidez dela fique muito evidente.
Pois é, queridos pais, serei papa. Sabendo que vocês sempre quiseram ser avós, tenho certeza que acolherão muito bem as crianças (são gémeos, uaaaaaaaaaaaaaaau !!), com o mesmo amor e carinho que me deram quando era pequeno. A única coisa que ainda está atrapalhando o casório é uma pequena infecção que minha noiva pegou e que nos impede de fazer os exames pré-matrimoniais. Eu também, por descuido, acabei por pegar, (ouvi os médicos comentarem que era sífilis) mas vou melhorar com o tratamento que a Nega Véia (é o nome dela), está fazendo. Ela disse que penicilina é coisa não presta e nem se compara à REZA FORTE que ela faz.
Vamos ver agora neste segundo mês...
Sei que vocês a receberão no seio da nossa família, com os braços abertos.
Ela é muito amável e faz uma comidinha que é de comer ajoelhado e embora nunca tenha estudado, tem muita ambição.
Apesar dela não seguir a nossa religião, tenho certeza que vocês serão tolerantes e sei que não pouco lhes importará o fato de sua pele ser mais escura que a nossa e o cabelo meio desajeitado. Tenho certeza que a amarão tanto quanto eu.
Como ela tem mais ou menos sua idade, mamã, tenho certeza que vocês se darão muito bem e se divertirão muito juntas pois, como a casa onde vivemos é muito pequena, pretendo voltar para casa com toda a minha nova família.
Ah, os pais dela também são pessoas maravilhosas e parece que estão interessados em morar com a gente num futuro próximo.
Eu até mandei o dinheiro da viagem (usei aquela poupança que vocês haviam feito pra mim aos 5 anos) mas os meus futuros sogros não puderam vir este mês porque o psiquiatra da clínica onde o pai dela trabalha como vigia, resolveu internar o Nhô Zulu (é o nome dele) por problemas de alcoolismo e não lhe deu alta esta semana porque ele está ainda um pouco, digamos, rabugento... O médico não deve entender nada! Porque na Serra Leoa, onde eles vivem, a medicina é muito fraca.




Agora que já sabem de tudo, é preciso que lhes diga que não ocorreu nenhum incêndio, não tive nenhum traumatismo craniano, não estive hospitalizado, não tenho noiva, não tenho sífilis e não há nenhuma imigrante africana na minha vida.
A verdade é que tirei ZERO a Física, 2 a Matemática e 1 a Biologia e quis mostrar-lhes que existem problemas bem mais complicados na vida que notas baixas.

Um beijo de seu filho
Júnior.

P.s:Vá, aprendam k eu não duro sempre ... lol
Mas a verdade é k isto até pode dar jeito, agora para as "negas" do 1ºPeríodo ... ha, pensem lá nixo e depois digam-me algo, ok ?!...

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